Independência do Quênia: Como foi a história

Maasai Woman in Kenya
A Maasai woman in Kenya
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No continente africano, mais especificamente na costa oeste, logo abaixo da linha do Equador, em uma área de 569.140 km2, encontra-se a República do Quênia, país soberano e independente desde 1963.

O Quênia faz fronteira com a Somália ao leste, Etiópia ao norte, Sudão do Sul ao noroeste, Uganda a oeste e Tanzânia ao sul. Sua antiga capital, Mombasa, é um destino turístico famoso por conta de suas praias e beleza natural. Nairóbi, a capital desde 1905, com mais de 3 milhões de habitantes, é um dos 47 municípios que formam a República e as línguas oficiais são o inglês, o swahili e dialetos indígenas.

*Antes de contarmos sobre a Independência do Quênia, temos que falar como tudo começou: a colonização do Quênia. Se você quer saber somente a história da Independência, pula pro tópico sobre a II Guerra Mundial (ali embaixo)????

As tribos do Quênia

Uma mulher Maasai olhando pro nada no Quênia
Mulher Maasai

O país é formada por ao menos 52 tribos que descendem de três tribos principais: Bantu, Niloti e Cushiti.

Os Cushitis são em maioria muçulmanos com influência árabe; os Nilotis são provenientes da região do Rio Nilo; e os Bantus são a maior e mais conhecida tribo da África e também foram os que lutaram pela independência do Quênia, que desde o final do século 19 fazia parte do Império Britânio.

*Leia também: Harambee, a palavra em swahilli que todos deveriam conhecer – e adotar.  

A troca da garda britânica no Palácio de Buckingham em Londres
A Troca da Guarda em Londres, Reino Unido

O início da colonização do Quênia pelos britânicos

No século 19, época da disputa entre as grandes potências europeias para reivindicar territórios ao redor do mundo, um tratado de paz entre o governo alemão e o britânico foi assinado. O tratado estipulou que as áreas a partir do norte do Monte Kilimanjaro e da costa leste até o lago Victoria no oeste (o que atualmente equivale ao Quênia), ficaria sob domínio Britânico. Já a região abaixo, equivalente à Tanzânia, ficaria para os alemães. Foi desenhada então uma linha divisória entre os dois territórios africanos, a mesma que até hoje segue dividindo Quênia de Tanzânia.

A Imperial British East Company (IBEAC)

Como a monarquia inglesa estava focada em seus planos de conquistar outros territórios da África e ao redor do mundo, ela deixou a administração do novo território (Quênia) sob a responsabilidade da associação comercial Imperial British East Africa Company (IBEAC). Essa associação, fundada por um empresário inglês, já atuava na região desde antes da invasão britânica, e era resultado de um acordo com o Sultão de Zanzibar. O Sultão era o homem mais poderoso da região e seguia soberano mesmo durante a época da colonização. A IBEAC era responsável pela cobrança de impostos, assuntos relacionados à justiça, tratados e agia como governante no local.

No entanto, a empresa faliu em 1894, deixando o governo britânico como responsável global da área a partir desta data. A Inglaterra então estabelece o Protetorado do Leste Africano, também conhecido como África Oriental Britânica. 

Durante esse período, houve grande aumento de assentamentos estrangeiros no país, causando alguns conflitos com tribos locais, que chamavam os imigrantes de Mzungos. Em 1905, a capital foi transferida de Mombasa a Nairóbi e em 1920, foi oficialmente criada a Colônia do Quênia.

O Monte Quênia
O Monte Quênia

A origem do nome Quênia

O nome do país vem da montanha mais alta da região e o segundo ponto mais alto da África, o Monte Quênia.

A história, no entanto, é curiosa.

O Monte Quênia na verdade era conhecido como Kiima Kiinyaa, que em kikamba, língua falada pela tribo Kamba, significa “Monte Avestruz” (Kiima = monte e Kiinyaa = avestruz). A montanha é um vulcão extinto de cor negra com o topo recoberto de neve. O preto das rochas vulcânicas do meio para baixo, com o branco do meio pra cima, lembra um avestruz; daí o apelido. Quando o nome foi traduzido, no final do século 19, houve uma má interpretação e ele virou Monte Quênia.

A II Guerra Mundial

Guerreiros quenianos durante a II Guerra Mundial
Guerreiros quenianos durante a II Guerra Mundial

No período colonial, particularmente durante a II Guerra Mundial, muitos quenianos lutaram lado a lado com os britânicos. Eles eram conhecidos como askaris, nome que vem da cia KAR – Rifle Africano do Rei.

Quando a guerra acabou, os homens que tinham se alistado no exército, e que eram em sua maioria da tribo Kikuyu, voltaram para casa esperançosos de que teriam melhores trabalhos e oportunidades de vida.

Não precisou de muito tempo para se decepcionarem e perceberem que continuavam sendo segregados, sem os mesmo direitos dos brancos. Mais uma vez, pobreza e fome era a realidade desses homens.

Nesse mesmo período, a Autoridade da Colônia (governo) tinha planos de modernizar o Quênia e para isso teria que trabalhar na infraestrutura do país, o que exigia mão de obra e investimento financeiro. Para alcançar o objetivo, terras e direitos da população foram tomados. Muita gente foi forçada a trabalhar por mais tempo e menor remuneração, quase que como escravos, aumentando ainda mais a segregação entre brancos e negros e criando mais pobreza e fome entre os locais.

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O Movimento Mau Mau

Diante disso, um movimento conhecido hoje em dia como Mau Mau começou a lutar pela expulsão dos brancos do Quênia.

Até hoje não se sabe ao certo de onde veio esse nome, mas muitos quenianos afirmam que Mau Mau significa “Mzungo Aende Ulaya, Mwafrika Apate Uhuru”, que em português quer dizer “pessoas brancas, voltem para a sua terra, deixe o africano ser livre”;

Homens quenianos capturados em campos britânicos no Quênia
Homens quenianos capturados em campos britânicos

Estado de emergência e Campos de Trabalho Forçado

Em 1952, quando a Rainha Elizabeth II subiu ao trono, a Grã-Bretanha declarou estado de emergência no Quênia, afirmando que os revolucionários estavam assassinando colonos britânicos. Nessa época, foram criados campos de trabalho forçado a fim de “converter” lutadores Mau Mau em cidadãos “honestos”. Estima-se que cerca de 80.000 homens foram capturados, principalmente da tribo Kikuyo, e forçados ao trabalho nos campos. Muitos morriam por espancamento.

Os campos de trabalho ainda proporcionavam mão de obra gratuita para o governo inglês e vários projetos de infraestrutura foram desenvolvidos nesse período, como o atual aeroporto e algumas das principais estradas do país.

Ironicamente, isso aconteceu logo após o final da Segunda Guerra Mundial, onde os britânicos lutaram contra os alemães e seus campos de concentração.

Derrota Mau Mau e Independência do Quênia

Ainda hoje há quem afirme que os revolucionários estavam lutando por independência pacificamente e que nenhum Britânico foi morto inicialmente. Os militantes Mau Mau não estavam esperando uma intervenção militar por parte da Grã-Bretanha, muito menos uma guerra contra eles, porém, a propaganda e a intervenção militar os forçaram a lutar.

Apesar da história ser um pouco controvérsa, foi durante esse período que os Mau Mau começaram a lutar para a independência do país, matando locais que não se unissem ao movimento, além de pessoas aliadas ao governo inglês.

Jomo Kenyatta e Dedã Kimathi abraçando-se
Jomo Kenyatta e Dedã Kimathi

Os Mau Mau foram derrotados em 1956 após a morte de seu líder Dedã Kimathi. O legado deixado pelo movimento, no entanto, levou à independência do Quênia, em 1963. O governo inglês temia que se continuassem a usar a força para reprimir os protestos, fossem chamar ainda mais atenção internacional e também queriam evitar os altos custos de manutenção da colônia.

Jomo Kenyatta, presidente do partido político KANU (Kenyan African National Union), que foi sentenciado a sete anos de prisão – de 1953 a 1960 – sob a acusação de ser um dos líderes do movimento, se tornou o primeiro presidente do país, em 1963.

A bandeira do Quênia

A bandeira do Quênia

Ainda hoje a bandeira do Quênia é baseada nas cores da bandeira do KANU: três listras, nas cores preta, vermelha e verde e duas listras brancas menores entre elas. No meio, um escudo e duas lanças cruzadas formando um “x”.

A cor preta representa a população local de cor negra; o vermelho é para lembrar do sangue derramado durante a luta por independência; e o verde representa a natureza e a riqueza natural do país. As pequenas listras brancas entre as cores significa paz e o escudo, pertencente à tribo Maasai, por se tratarem de notáveis guerreiros que ainda mantém muito de suas tradições, e as duas lanças, simbolizam a defesa pela paz.

O Quênia Atualmente

Tela de celular mostrando o M-Pesa e como pagar as contas
Como os quenianos pagam suas contas

Hoje em dia, o Quênia segue um sistema jurídico que mescla leis inglesas, islâmicas e direito consuetudinário.

Uma nova Constituição foi elaborada em 2010 durante a liderança Kibaki, após referendo aprovado com maioria que eliminava a posição de primeiro ministro e diminuia o poder do presidente.

O presidente atual é Uhuru Kenyatta – que acaba de ganhar novamente em Setembro de 2017 –  filho do primeiro líder queniano, Jomo Kenyatta.

O Quênia foi recentemente classificado como o sexto país para se investir, especialmente no quesito infraestrutura. Além do mais, o país desenvolveu o sistema bancário móvel, o M -Pesa, que Bill Gates afirmou ser a revolução do sistema bancário e sistema que seria em breve adotado pelo primeiro mundo. M- Pesa significa Móvel Pesa – dinheiro na língua nacional swahili – e foi lançado em 2005 baseado no hábito da população de passar créditos para outros a fim de quitar dívidas e/ou pagar pequenas compras.