Harambee – por que o mundo deveria adotar seu significado

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Harambee significa “all pull together” na língua nacional do Quênia, swahilli. Uma alusão ao trabalho em equipe e à valorização da comunidade antes do indivíduo.

Harambee foi muito utilizado na época da independência do país, em 1962, principalmente pelo primeiro presidente Jomo Kenyatta e, hoje em dia, está estampada na bandeira nacional.

A propósito, o nome não vem do Gorilla – caso não saiba do que estamos falando, veja a matéria.

Escudo de armas do Quênia escrito Harambee

Em áreas rurais como a que vivemos atualmente, é muito fácil escutar um grito de “Harambee!!!” vindo de pessoas que precisam de ajuda para apagar um fogo, subir um poste, carregar algo pesado ou até mesmo para juntar dinheiro para colocar o filho na escola, ou visitar um parente distante.

Simbolo do Harambee

A primeira vez que ouvimos “Harambee”

Um dos nossos primeiros contatos com o Harambee foi logo quando chegamos ao orfanato. Como não temos eletricidade nessa zona da cidade e o governo não dava sinais de que pretendia ajudar, os moradores locais se organizaram para subir um poste de luz eles mesmos.

Com o som “harambee” sendo gritado a plenos pulmões por dezenas de homens que puxavam cordas para tentar subir aquele poste, após algumas horas a missão estava concluída. O que mais nos marcou foi ver que todos que passavam por ali, paravam tudo o que estavam fazendo e iam ajudar no árduo trabalho. Inclusive nós – obviamente o Tiago foi de maior serventia que a Fernanda. Mas alguém teve que tirar a foto, né 😉

Presenciar esse episódio logo na nossa chegada, foi muito marcante…

Fazendo um Harambee no Quênia com o poste de luz

Automaticamente fizemos uma analogia com um episódio que vivenciamos enquanto morávamos em Londres.

Harambee em Londres

Logo no começo do nosso casamento, não tínhamos um centavo para nada e com o inverno chegando, queríamos muito uma televisão para nos entreter nas noites de sofá….

Um dia pedalando pelo bairro em que morávamos (compramos bicicleta porque na época faltava dinheiro até pro transporte) encontramos uma televisão enorme, super velha e que deveria pesar uns 200kg. Super empolgados resolvemos levar o trambolho para casa, tarefa que se provou quase impossível. A questão é que pedimos ajuda para equilibrar a televisão em cima da bicicleta e também para transportá-la pelos quase 10 quarteirões que nos separavam da nossa casa e, nem uma pessoa sequer, parou para dar uma mão…

Inclusive, alguns dos que passavam de carro, conseguiam desacelerar apenas para dar risada da cena (que guardamos com muito amor e risadas nos nossos corações, como muitos sabem).

Sei que ajudar a carregar uma televisão é um episódio muito menos nobre do que levar eletricidade para toda uma comunidade… mas sabe? Não custava nada, poxa… as costas da Fernanda doeram por mais de uma semana! 😉

Tiago medindo a tv com o braço
O nosso trambolho, quero dizer, televisão.

E por favor, não nos levem a mal, amamos Londres e provavelmente voltaremos a viver por lá novamente em algum momento. Mas é bem verdade que na vida que vivemos por aí (e incluímos o Brasil nessa), estamos cada vez mais esquecendo de nos ajudar. O individual está se sobrepondo ao coletivo e isso vai nos distanciando e nos deixando indiferentes e apáticos.

Aqui, apesar de todos os pesares, parece que as pessoas são mais próximas e têm mais tempo para se ajudar ou mesmo jogar conversa fora. Como escutamos uma vez: “The Ocident has the clock, Kenyans have the time” (algo como “O Ocidente é dono do relógio, os quenianos, do tempo“).

Mas enfim, voltando ao Harambee!

Tiago e Fernanda com a tatuagem do Harambee

Há uma controvérsia quanto à origem da palavra. Muitos quenianos, sociedade extremamente religiosa, não gostam nem um pouco da história de que Harambee na verdade significa “Hare Ambee”, sendo “Ambee” o nome de um deus hindu e “Hare” um termo de saudação, como em “Hare Krishna”.

Diz a lenda que o presidente Jomo Kenyatta presenciou um grupo de trabalhadores de origem indiana cantando “hare, hare Ambee” enquanto trabalhavam na construção das ferrovias quenianas. Aqueles homens carregando materiais tão pesados, em perfeita harmonia e coesão, representava a metáfora que Kenyatta queria passar ao povo do Quênia, que estava na época, lutando pela independência: um país unido, trabalhando em harmonia e se ajudando em prol de um bem comum.

A origem e significado da palavra simbolizam bastante o que viemos fazer no Quênia, o que iremos fazer durante nossa viagem de volta ao mundo e o que pretendemos levar para sempre em nossas vidas.